O governo Federal retoma nesta semana o projeto de construção da usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro. As obras foram iniciadas nos idos de 1984, mas estão paralisadas desde 2015.
Até o momento, 65% das obras estão finalizadas, ao custo de R$ 7,8 bilhões. Para o resto, estima-se que serão necessários mais 15 bilhões. O edital já foi lançado, e o processo continua nesta terça-feira (29/jun/2021), com a abertura de propostas do setor privado.
O objetivo é adiantar as atividades de construção antes mesmo da contratação da empresa que fará a obra em sua totalidade. Segundo a Eletrobras, estatal do setor de energia elétrica, mostraram interesse na conclusão de Angra 3 mais de 20 empresas, como a Westinghouse (EUA), EDF (França) e Rosatom (Rússia), além de CNNC e SNPTC (China).
No Brasil, a exploração da energia nuclear é monopólio da União, segundo a Constituição. O governo Federal quer, com o edital, atrair um parceiro para a Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras responsável pela usina.
O ministro de Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, defende a construção de usinas nucleares como alternativa para minimizar crises hídricas como a atravessada pelo Brasil atualmente.
Se concluída, a unidade terá uma potência de 1,4 GW e poderá atender 4,5 milhões de pessoas.
Alguns especialistas veem Angra 3 como um projeto obsoleto. Usinas essencialmente idênticas na Alemanha, parceiro histórico do Brasil no desenvolvimento de energia nuclear, foram desligadas devido aos riscos.
“A tecnologia de Angra 3 é basicamente a mesma do projeto original, definido há mais de 40 anos”, diz Célio Bermann, professor associado do Instituto de Energia e Ambiente da USP. “As mudanças alegadas pelo governo são superficiais, não atingem os equipamentos mais importantes. Essa é uma pseudomodernização.”
O Ministério das Minas e Energia não vê problema no fato de a usina ter sido planejada nos anos 1970. Procurada pela DW Brasil, a pasta disse que foram feitas “mudanças na concepção original” e incorporadas “modernizações tecnológicas” ao longo do tempo.
Várias alterações ainda estão previstas, segundo o ministério, que cita “a adoção de controles digitais” e “um reforço na resistência a terremotos e maremotos”, desenvolvido depois do desastre de Fukushima, em 2011, no Japão.
Angra 3 foi planejada no âmbito do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, assinado em 1975. As obras foram paralisadas após descoberta de um esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato. As investigações levaram à prisão de executivos da Eletronuclear, como o almirante Othon Pinheiro da Silva, ex-chefe da companhia.
Assinado nos anos 1970, o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha prevê uma cooperação bilateral para uso pacífico da energia nuclear. Pelo acordo, oito usinas nucleares seriam construídas, mas apenas Angra 2 virou realidade. Angra 3 deve entrar em operação em 2026, se os planos do governo Bolsonaro derem certo.
Até lá, no entanto, é possível que o acordo não esteja mais em vigor. Renovado a cada cinco anos, ele expira em 2025. Ele poderá ser torpedeado pelo Partido Verde alemão, que, segundo pesquisas, tem chances de fazer parte de uma coalizão de governo após as eleições gerais de setembro na Alemanha. Para os verdes, o país deveria se tornar um modelo mundial para o abandono da energia nuclear.
O governo alemão admite que a situação mudou, mas para eles os termos do acrodo bilateral ainda podem ser úteis para melhorar a segurança das instalações nucleares por meio de trabalho técnico e científico conjunto. O que não significa um sinal verde para novas instalações: “A Alemanha se recusará a trabalhar em conjunto para construir novas usinas nucleares” com o Brasil, disse o Ministério.
Segundo o Ministério de Minas e Energia brasileiro, o acordo nuclear com a Alemanha “ainda é relevante para o Brasil”. Tanto Angra 2 quanto Angra 3, segundo o ministério, “contam com tecnologia alemã Siemens/KWU (hoje, Framatome ANP), que continua a fornecer suporte técnico” para as duas usinas.
FINALIZAR A OBRA SERIA MAIS BARATA QUE O DESMONTE:
Do investimento total de R$ 15 bilhões previstos para Angra 3, a Eletrobras já liberou R$ 1,052 bilhão em 2020, e tem previstos mais R$ 2,447 bilhões para 2021, segundo o Ministério das Minas e Energia. A usina é vista como “fundamental” para o fornecimento de energia para a região Sudeste.
O professor de Engenharia Nuclear da Coppe/UFRJ e e ex-presidente da Indústrias Nucleares do Brasil (INB) Aquilino Senra defende a conclusão de Angra 3. Para ele, “seria necessário arcar com um prejuízo de cerca R$ 15 bilhões de reais para o desmonte da estrutura já existente, a quitação de empréstimos já realizados, multas contratuais e a desativação completa do canteiro de obras”.
Fonte: https://www.poder360.com.br/
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