1 de outubro de 2010

Zico anuncia que não é mais diretor do Flamengo

Zico, o maior ídolo do Flamengo, durou apenas quatro meses no cargo de diretor executivo do clube. No início da madrugada desta sexta-feira ele anunciou a sua saída em carta aberta publicada em seu site "Zico na Rede". Segundo Zico, ele tem sido atacado injustamente dentro do clube e diz que não seria possível agora fazer o que planejara.

O ídolo argumenta que as pressões que sofreu dentro do clube, especialmente do Conselho Fiscal, que é presidido por Leonardo Ribeiro, também conhecido como Capitão Léo, principalmente por envolver a sua família, foram cruciais para a sua saída. Ele afirma que há pessoas no Flamengo atuando como se fossem donas do clube e que tomará medidas judiciais contra elas.

O fato certamente agravará a crise no Flamengo, que só venceu um dos últimos 12 jogos e ocupa a 15ª colocação do Campeonato Brasileiro, bem próximo da zona de rebaixamento. No seu último dia de trabalho especulou-se que o técnico Silas seria demitido, mas Zico decidiu manter o treinador, apesar da forte insatisfação com o trabalho dele dentro e fora do clube.

Confira abaixo a íntegra da nota publicada por Zico em seu site:

"No dia em que aceitei o convite para ser diretor-executivo de futebol do Flamengo fiz questão de me manifestar através do meu site oficial, que sempre foi minha voz, meu canal de comunicação com as pessoas que me acompanham. E não poderia ser diferente agora que venho comunicar minha saída do clube.

"Considero nesse momento que não é possível fazer no Flamengo aquilo que eu gostaria. Percebo que a minha presença não tem sido favorável e, desde a minha chegada, vem causando o descontentamento de muitas pessoas. Não há condições para eu continuar.

"Estou sendo atacado injustamente, principalmente através de meus filhos, que em nenhum momento se envolveram em nada que estivesse em desacordo com os conceitos éticos e morais que aprendi com meu pai. Minha vida sempre foi calcada no trabalho, no respeito e no embate franco diante dos desafios. Não posso permitir que esse duelo covarde continue a acontecer usando a minha família, que vem se desgastando nas últimas semanas.

"Queria agradecer a Patrícia pela oportunidade de tentar fazer mudanças que considero importantes para o Flamengo, não apenas no futebol profissional. Meus planos seguiam pelas divisões de base, de onde eu vim, e vislumbravam a construção de um Centro de Treinamento - que sempre foi um sonho desde os tempos em que eu ainda jogava no clube. Espero que estas sementes não sejam desperdiçadas.

"Tomar uma decisão como essas não é fácil. Mas espero que todos entendam que não posso carregar comigo a desconfiança de um dos setores mais importantes do clube, o Conselho Fiscal. E não há condições de debater com essas pessoas que estão a serviço de sabe-se lá quem ou o que, dispostas a jogar sujo e minar o próprio clube.

"Quando aceitei o desafio de assumir o futebol do Flamengo, sabia das dificuldades e meu discurso era no sentido de uma atuação de consenso, unindo forças dentro do Flamengo. O objetivo era angariar o apoio de quem quisesse o bem do clube.

"Não travo batalhas de poder e dinheiro, jamais fiz em nenhum lugar por onde passei. Minha arma na guerra sempre foi o trabalho, a transparência e a lisura com as quais segui conduzindo cada negociação que fiz ao longo desse período como dirigente. Minha vida sempre foi aberta a quem quisesse pesquisar e, se não consegui levar o CFZ do Rio à Primeira Divisão do Rio, muita gente sabe que foi também por não me curvar aos desmandos de quem comandava o futebol carioca.

"Se eu cometi erros como diretor- e sou humano para isso – saibam que agi sempre no intuito de acertar e observando o que julgava melhor para o Flamengo. Em nenhum momento desonrei quem acredita em mim.

"Gostaria de agradecer ainda a cada funcionário do clube que me apoiou nesse período. Infelizmente não vai ser possível cumprimentar um a um, mas espero que todos se sintam abraçados por mim. E dizer aos jogadores, a quem eu também agradeço pelo apoio constante, que eu confio na capacidade deles de superar essa situação.

"Dediquei quase toda a minha carreira como jogador profissional ao Flamengo, centenário, histórico, de muitos ídolos e que me ajudou a ser quem eu sou hoje. Esse clube, onde me formei e me tornei um ídolo, precisa voltar a ser grande. O caminho da grandeza foi perdido não agora. Lamentavelmente é fruto de anos e anos de um sistema histórico incompatível com as coisas que eu acredito.

"Para mim, esta quinta-feira foi um dia especial porque nasceu meu neto Antonio, mas ao mesmo tempo morreu no meu coração esse Flamengo de hoje que está representado por essas pessoas, algumas delas que sequer conheço e atuam dentro do clube como se fossem os donos.

"Ao torcedor fica meu lamento e o maior agradecimento de todos. O que ouvi ao longo do tempo foi sempre apoio, incentivo, mensagens de força. Mas realmente, nesse momento sinto que a minha presença está prejudicando o clube. É preciso união e muita gente está mais preocupada em me tirar do cargo do que com o Flamengo. Portanto eu saio.

"Para encerrar, quem me conhece sabe que as acusações levianas envolvendo a minha família e o CFZ não vão ficar no esquecimento. Faço questão de ir atrás judicialmente de tudo o que foi dito dentro e fora do clube.

"Obrigado, Zico".


O Vice de futebol, Vinícius França, seguiu os passos de Zico e deixou a vice-presidência de futebol do clube, cargo que ocupou por aproximadamente três meses. Espécie de conselheiro do Galinho na Gávea, o dirigente não via mais motivos para continuar no clube na ausência do ídolo.

Com isso, o único dirigente que resta no departamento de futebol rubro-negro é Isaías Tinoco, que, nesta última passagem, está no cargo desde o início de 2005.

A presidente Patrícia Amorim dará entrevista coletiva no Ninho do Urubu na tarde desta sexta-feira. O treino está marcado para 15h.

A Saída de Zico enfraquece ainda mais Silas, e nome de Luxemburgo segue forte, vez que foi Zico e mais ninguém, quem segurou o técnico Silas no cargo para o clássico contra o Botafogo, pois se dependesse da vontade dos demais integrantes da diretoria, o treinador estaria demitido pela soma de maus resultados e problemas internos. Sem o único que ainda o defendia no Flamengo, a situação é praticamente irreversível e caminha para a demissão no sábado. Na Gávea, circulou a informação de que Vanderlei Luxemburgo seria oficializado no cargo no dia seguinte.

Há também grande preocupação com o moral do grupo diante dos acontecimentos. Os jogadores não imaginavam que Zico cederia às pressões políticas. Mas também se mostraram incomodados com o clima pesado no clube.

A saída de Zico agrava a crise e cria um machucado difícil de cicatrizar. Mas a situação na tabela não permite negligência com o problema. O time está em 15º lugar e precisa reagir para escapar da ameaça de rebaixamento à Série B.

Por Marcello Muniz:

Eu realmente tinha a esperança de que as coisas no Flamengo iam melhorar de vez com a Patrícia Amorim, que interrompeu uma longa série de presidentes empresários, com o Zico no futebol, pois sem duvida alguma são duas pessoas que trabalham serio e honestamente, em prol do clube, e não em prol de angariar dividendos pessoais, com um parceiro forte como a Olympikus e com o grande titulo recente, ou seja, tudo para dar certo.

Pensei ainda que esta politicagem, que não leva a nada de bom, seria banida da Gávea, que os interesses do clube passariam a ser mais importantes, todavia, mais uma vez os interesses pessoais falaram mais alto e o jogo político continua forte, uma pena, pois isso só atrai novos interesseiros e não pessoas que pretendem trabalhar serio para a melhoria de todos os aspectos do clube.

Vejo os ídolos do Flamengo cada vez mais longe e a proximidade do buraco negro se tornar uma possibilidade real, que pode nos levar do titulo brasileiro à segunda divisão.

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