15 de fevereiro de 2015

Explosão no terreno reservado para a construção do autódromo do Rio de Janeiro.

Fonte: WARM UP PEDRO HENRIQUE MARUM, do Rio de Janeiro, http://grandepremio.uol.com.br/

Por Marcello Muniz: Resolvi reproduzir esse artigo por três motivos, o primeiro é obvio, uma crítica aos governos municipal e federal, que acabaram com o autódromo de de Jacarepaguá e não estão dando a mínima para o flagrante impecílio para a construção do novo nesta área de Deodoro, quando, va verdade, já deveria ter designado outra área para tal, como por exemplo uma um pouco menor, em Irajá, onde fica o inútil DNER, que poderia ocupar um dos muitos prédios públicos vazios no Centro da cidade, ou apenas atravessando a linha férrea e a Est. Mal. Alencastro Guimarães, em Ricardo de Albuquerque, ao lado do cemitério, uma vasta área que chega até a Av.Brasil, aos fundos de algumas instalações usadas no PAN, e onde será construído algo para as Olimpíadas, onde hoje só há algumas poucas casas do exército. Ou seja, falta apenas boa vontade!

O segundo motivo é que este fato ocorrido em 1958 já me havia sido contado algumas vezes pelo meu saudoso pai, nascido em 1946, e desde 1951 morador da Rua Osman Lins, em Guadalupe, endereço muito próximo ao que ficava localizado o antigo paiol. Realmente as fortíssimas explosões apavoraram os moradores de toda aquela região final da zona norte da cidade, assim como da zona oeste e parte da baixada fluminense.

Por fim, atualmente moro em Marechal Hermes e estava em casa quando da ocorrência desta explosão do último dia 12, que apesar de ter sido apenas uma, foi algo assustador, minha casa tremeu, literalmente, e o barulho foi muito forte, eu e vários vizinhos fomos a rua, tentar saber o que ocorria, contudo, somente algumas horas após o ocorrido, foi que fiquei sabendo pela imprensa, o que tinha acontecido. Graças a Deus não houve danos na minha casa, nem da minha mãe, que mora no mesma rua que meu pai morava em 1958, contudo, ela contou-me que vários vizinhos tiveram prejuízos materiais.

Fico pensando, uma explosão já causa um horror em quem a presencia, agora imaginem uma guerra. Tomara que nosso país não se envolva em nenhuma, e que nenhuma outra nação nos ataque, mas nossas forças armadas precisam estar cada vez mais fortes para em caso de um ataque, poder defender nossa pátria e nossas vidas.

"Não passava das 14h da última quinta-feira (12) quando os moradores dos bairros de Deodoro, Marechal Hermes, Ricardo de Albuquerque, Guadalupe, Vila Militar e Anchieta sentiram um barulho e fortes tremores. Algumas casas tiveram vidraças estouradas, telhados quebrados e saíram à rua, assustados. Era uma explosão na área do Camboatá, em Deodoro.

Mais uma onde deveria estar o novo autódromo do Rio de Janeiro.

Não é exatamente uma novidade uma explosão no local. Nem historicamente, nem recentemente. Uma explosão na Central de Munição do Exército em 1958, na mesma região, espalhou munições e restos de explosivos pela área. Em agosto de 2012, um militar em treinamento morreu e outros dez ficaram feridos após acenderem uma fogueira que acabou encontrando um dos artefatos.

Desde então, todos os dias o Batalhão de Engenharia de Combate de Santa Cruz se encarrega de encontrar e explodir os muitos artefatos de quase 60 anos perdidos por toda a região de 2 milhões de m² que é o Campo do Camboatá. Segundo o Comando Militar do Leste, a explosão da quinta teve uma onda de choque em níveis acima do esperado.

E como o autódromo se envolve nessa história? Em 2012, o terreno foi cedido pelo Exército para que uma nova casa para o automobilismo fluminense fosse construída. Mas o Ministério do Esporte, responsável por financiar as obras, resolveu suspender o projeto em novembro de 2014 após sugestão do Ministério Público, que exigiu um estudo que as obras teriam no impacto ambiental.

A Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) garante que o projeto do autódromo segue. O Ministério do Esporte afirma que "vinha preparando o atendimento das condicionantes ambientais que haviam sido fixadas pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) para emissão da licença".

Então, a Justiça suspendeu a licença. "O Inea determinou ao Ministério que providenciasse Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental. O Ministério, embora convicto de ter cumprido todos os requisitos legais e ter esclarecido todos os questionamentos da promotoria, acatou a decisão judicial e iniciou a fase dos estudos, com o propósito de fazê-lo no menor período de tempo possível e na esperança de que a liminar de janeiro de 2013 fosse derrubada".

Mas a decisão não foi mudada, e o trabalho ficou interrompido. No entanto, o Ministério do Esporte garante que uma vez que a Justiça permita, o projeto do autódromo será retomado.

Um dia que o Subúrbio não esquece

Não era início de tarde como aconteceu na última quinta, mas meio da noite. Era 2 de agosto de 1958, lá pelas 5h, e ainda estava escuro quando as explosões e os tiros começaram a encher de medo o Subúrbio do Rio de Janeiro. O céu ficou claro, vermelho, e não se sabia exatamente do que se tratava.

"Diziam que tinha uma bomba com capacidade para explodir tudo até o Méier (distante 13 km de Deodoro). Saí na rua e encontrei gente de camisola, cueca, com criança no colo. Todo mundo com medo. Subindo na ponte da estação (de trem) de Bento Ribeiro (3,5 km em relação a estação ferroviária de Deodoro) e olhando na direção das explosões só dava para ver as pessoas vindo, fugindo de lá", contou dona Lina Nunes de Souza, que morava no bairro de Bento Ribeiro à época e teve de sair às pressas de casa com o marido, Henrique, o cunhado, o sogro e dois filhos pequenos.

"Fomos andando até Cascadura (5,5 km), só lá conseguimos pegar um ônibus para a casa da tia do Henrique na Abolição (9 km)", seguiu. "O Henrique tinha acabado de virar Sargento e foi esconder a farda, eu perguntei o motivo pelo qual ele não levava a farda junto, e ele respondeu que era porque podiam chamá-lo para lá", contou.

O marido de Dona Lina, Seu Henrique, era militar, também. Servia no Arsenal do Exército, em outra parte da cidade. Mas não queria deixar abrir a possibilidade de não estar junto a sua esposa, seus dois filhos, seu irmão, vítima de tifo na infância, e seu já idoso pai.

Não era guerra. Também não era um final do mundo. Era o Depósito Central de Armamento e Munição, o maior da América do Sul, instalado nas proximidades de bairros extremamente povoados, mesmo já naquela época. 10 paióis e 60 depósitos de armamentos bélicos existiam no local e parte deles estava indo aos ares.

O fogo começou no paiol de infantaria, mas se estendeu para os paióis de petardos da infantaria e para a Granja do Exército. O Batalhão de Artilharia Antiaérea também foi atingido. Com o incêndio, projéteis foram lançadas ao céu por distâncias enormes. De munições de fuzis a granadas, os projéteis se espalharam pelo Subúrbio e ficaram cravados em terra pela violência com que caíram de volta ao chão. Especialmente no Camboatá.

As explosões perduraram por inacreditáveis 72 horas, e logo chegou por lá o Presidente da República, Juscelino Kubitschek, que rapidamente se despencou do Palácio do Catete, então lar do mandatário brasileiro, para Deodoro.

Os ventos pitorescos provocados pelas explosões foram longe, até a Zona Sul da cidade, em bairros como Copacabana (39, 5 km) e Leblon (40,5 km). Casas sofreram danos em partes do Subúrbio também distantes, como Engenho de Dentro (12 km), Grajaú (16,6 km) e Vila Isabel (16,8 km).

"Quando nós voltamos para casa depois que acabaram as explosões, as portas e janelas de casa estavam todas abertas por causa do vento", contou.

Menos de dois meses depois, em outubro daquele ano, outra explosão. Essa pela manhã, mas mais uma vez em doses importantes. Suspeita-se que a segunda explosão, embora menor, tenha terminado com um saldo de 27 milhões de tiros.

Apesar de quase mandar o Rio de Janeiro à destruição, as explosões acabaram não causando tragédias de grandes proporções. Não há uma estimativa oficial de mortes, mas ninguém, por incrível que pareça, explodiu pelos ares. Os poucos mortos foram pessoas que entraram em crises cardíacas, tamanho era o caos, e não resistiram.

"A Esmeralda, minha filha [à época com 13 anos de idade], ficou com tanto medo das explosões que acabou com pânico de barulhos parecidos. Qualquer estalo mais forte a gente tinha que acudi-la; ela fez tratamento por anos", revelou Lina.

Os anos e as décadas foram ficando para trás depois dos acontecidos naquele 2 de agosto, mas ninguém descobriu as causas reais da explosão. Como as eleições se acercavam, falou-se em atentado comunista, em golpe dos conservadores para desgastar JK e seu então Ministro da Guerra, Henrique Teixeira Lott, visto como simpatizante da causa comunista – Lott disputaria a presidência da república dois anos depois e perderia para Jânio Quadros. Visões que escancaravam a fragilidade política de um país que sofreria um golpe alguns poucos anos depois. Três homens chegaram a ser presos após a segunda série de explosões, acusados de atos subversivos, mas jamais foi provado nada contra qualquer um deles.

Os paióis foram retirados de lá imediatamente e mandados para a cidade de Paracambi (76km do Rio), na Zona Metropolitana do Rio de Janeiro, bem mais distante e menos povoado. E o local antigo ficou sem nenhuma edificação por cerca de 30 anos. Até 2012, porém, nenhum acidente havia sido registrado com os projéteis antigos.

Aqueles dias foram tão sinistros, que há relatos de corpos e ossadas, antes enterrados no cemitério do bairro de Inhaúma, boiando nas então límpidas (hoje intragáveis) águas da praia de Ramos. Num Rio de Janeiro que fervilhava com o recém-conquistado título mundial da Seleção Brasileira, acabou se moldando um evento que permanece, mesmo hoje, no imaginário."



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