Fonte: http://riodejaneiro.ig.com.br/
Considerada um negócio da China, a Barca Pão de Açúcar completou um mês de operação no último sábado, contudo, a embarcação é gigante, demorada e corre o risco de ficar mais cara. Por esses motivos, em vez de festa e bons números para comemorar, a sensação é de que a gigante que vive parada na estação da Praça Araribóia está se transformando em um elefante branco. O sonho do governador Luiz Fernando Pezão era de que a travessia Rio-Niterói fosse realizada em 15 minutos. Porém, a promessa deu lugar a um pesadelo real que chega a 25 minutos.
Em um mês foram feitas 287 viagens (cerca de 14 por dia), com 174.723 passageiros. Isso dá, em média, 600 pessoas por viagem. Ou seja, se considerarmos as duas mil pessoas que ela pode transportar, a embarcação está funcionando com apenas 30% da sua capacidade.
Os problemas não param por aí. Segundo especialistas, o custo operacional da Pão de Açúcar chega a ser 50% maior que o dos catamarãs sociais (modelo para mil passageiros). Além de mais lenta e cara, ela é grande demais para entrar no estaleiro, que vai precisar de obras para acomodá-la. Como tudo que vai mal pode piorar, outras seis embarcações iguais foram encomendadas, num ‘negócio da China’ de R$ 300 milhões, pagos com dinheiro público.
Moradores de Niterói e usuários do serviço, os deputados Flavio Serafini (Psol) e Comte Bittencourt (PPS) buscam explicações. Desde que O DIA publicou que a concessionária levou prejuízo de R$ 110 milhões nos últimos anos, os dois procuraram a Agetransp e a Secretaria Estadual de Transporte.
Fontes informaram que o preço da tarifa básica indicado pela empresa seria de R$ 7,70 e passaria dos R$ 10, caso fossem feitos novos investimentos. O secretário de Transportes, Carlos Osorio, chegou a dizer que não sabia da negociação. “O presidente da Agetransp disse que a CCR pediu revisão de tarifa, sim”, afirmou Comte. Já Serafini garantiu que fontes ligadas a Osorio confirmaram os R$ 7,70.
A CCR Barcas afirma que o tempo de travessia da Pão de Açúcar é de 16 minutos. Mas não é o que acontece na prática. Especialista em mobilidade urbana, Fernando Mac Dowell explica que a questão não é a velocidade, mas o tempo de embarque e desembarque.
“São apenas cinco quilômetros de trajeto, mas tem o tempo de atracação. A barca não vai com velocidade estável o tempo todo. Tem ainda o limite de velocidade imposto pela Capitania dos Portos. Então, não adianta comprar uma embarcação mais veloz se o tempo para ela atracar é maior”, explicou, lembrando que indicou a compra de um modelo em que o embarque e desembar acontecia em apenas 1,25 minuto.
Outro especialista no assunto, o professor da Uerj, Alexandre Rojas, ressalta que primeiro o Governo Estadual comprou o carro para depois ver se ele cabia na garagem. “São duas mil pessoas entrando e saindo. Isso tinha que ter sido planejado, não adianta nada fazer o percurso rápido e depois gastar um tempão para atracar.
Em Nova Iorque, por exemplo, a entrada e saída de pessoas se dá em dois andares. Isso que dizer, numa conta simples, que eles levam a metade do tempo. Tem que descobrir quem fez este projeto aí. Nem pode dizer que foi o estagiário, porque qualquer estagiário faria melhor. Ninguém viu as limitações e características da barca e da Baía?”, indagou.
De acordo com a Agetransp, a demanda de passageiros nas barcas caiu 14,75% nos dois primeiros meses de 2015, na comparação com igual período de 2014. No total, foram 4,8 milhões de pessoas transportadas no ano passado, contra 4,1 milhões neste ano. Porém, a CCR Barcas informou em nota que “a demanda da travessia Rio-Niterói encontra-se estável no momento”.
A secretaria Estadual de Transportes afirmou que o tempo de viagem caiu 7 minutos em comparação com o catamarã social, saindo de 22 minutos para 15. O deputado Comte Bittencourt contesta. “Eles deixaram de informar o tempo de saída para contar o tempo de embarque. Aí é claro que vai diminuir. Eu sou usuário e levo mais de 20 minutos”, garante, lembrando que usou poucas vezes o novo equipamento que “está sempre parado em Niterói.” O colega de Alerj, Flávio Serafini feito o trajeto em 25 minutos.
Os dois parlamentares disseram que vão acionar o Ministério Público caso a CCR, a Agetransp e a Secretaria Municipal de Transportes não apresentem explicações sobre o custo da operação e detalhes do projeto das novas embarcações.
Sobre o tempo de viagem, o especialista em Mobilidade Urbana, Alexandre Rojas, diz que é possível fazer uma média, mas que existem variáveis como as condições do mar, o tráfego de outras embarcações e a quantidade de pessoas. “Diante do cenário, a média deve superar os 25 minutos”, concluiu.
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