O Ministério da Agricultura interditou na tarde desta sexta-feira, 10/01/2020, a fábrica da cervejaria Backer no bairro Olhos D’água, na Região Oeste de Belo Horizonte. Técnicos do ministério foram ao local e decidiram periciar todos os lotes de cerveja da fábrica.
A Polícia Civil investiga se o consumo da cerveja Belorizontina, da Backer, tem relação com a síndrome desconhecida, chamada pelas autoridades de síndrome nefroneural, que acometeu 10 pessoas, até o momento, todas em Minas Gerais.
Ontem, um laudo da Polícia Civil identificou a substância tóxica dietilenoglicol em amostras de dois lotes da Belorizontina, o L1 1348 e o L2 1348. O dietilenoglicol seria usado em serpentinas no processo de refrigeração de cervejas.
Segundo a corporação, exames de sangue de três pacientes identificaram o dietilenoglicol, que é uma substância de cor clara, viscosa, não tem cheiro e tem um gosto adocicado. A fórmula química é C4H10O3. Ela é anticongelante e de uso bastante comum na indústria.
A ingestão pode provocar intoxicação com sintomas como insuficiência renal e problemas neurológicos.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a substância é um solvente orgânico altamente tóxico que causa insuficiência renal e hepática, podendo inclusive levar a morte quando ingerido.
A intoxicação por DEG pode ocorrer quando ele é usado de forma inapropriada em preparações químicas, substituindo outros produtos não tóxicos para o ser humano. Desde 1937, foram registradas dezenas de casos de intoxicação em diferentes países.
O Ministério da Justiça notificou a Backer sobre a possível contaminação da cerveja Belorizontina. A empresa tem dois dias para apresentar campanha de recall, ou "comprovações de que o produto não está ligado ao fato" e também informar em quais estados da federação os lotes foram comercializados.
Segundo Carlo Lapolli, presidente da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), o uso do dietilenoglicol é muito raro em cervejarias. "Normalmente, as cervejarias usam álcool puro, sem nenhum tipo de conservante ou agente químico, misturado com água, numa proporção de 30%, para refrigeração dos tanques", explica.
Além de dizer que é raro o uso na indústria cervejeira, Lapolli afirma que o nível de toxicidade da substância não é alto. "Precisaria ser consumida uma quantidade muito grande para que haja o efeito visto em Minas Gerais. É preciso aprofundar a investigação é ver se as causas são mesmo essas", comenta.
A refrigeração dos tanques de cerveja é feita por meio de um circuito fechado. O álcool com água gelada vai passando por tubos chamados de "serpentina" ao redor do tanque de cerveja. "Ela não tem contato direto com a cerveja", afirma.
Lapolli acrescenta que a substância mais utilizada na produção de cerveja é o propilenoglicol, que pode ser consumido por seres humanos.
"Também é usado misturado com água. Para a cerveja chegar perto da temperatura zero, precisamos que a serpentina esteja a -5ºC ou -6ºC. Com a água pura, ela congelaria, por isso colocamos algum tipo de aditivo, um anticongelante", conta.
Em nota a Backer afirmou que não utiliza o dietilenoglicol em sua fábrica no processo de fabricação de qualquer bebida, inclusive a Belorizontina. A empresa disse ainda que que vai trocar ou devolver o dinheiro ao consumidor que tiver a Belorizontina de qualquer lote.
Fonte: https://g1.globo.com/
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