1 de março de 2012

Barrichello confirma acordo com KV e estreia na Indy na temporada 2012


Foi pouco mais de um mês entre o primeiro treino e o acordo final, anunciado nesta quinta-feira (1°), em coletiva em um hotel em São Paulo. Rubens Barrichello assinou contrato com a KV e vai disputar a temporada completa da Indy em 2012, incluindo as etapas disputadas em circuitos ovais. O contrato é válido por um ano. Após 19 anos na F1, o veterano piloto e recordista de largadas na categoria — 323 GPs — ficou sem vaga depois que Bruno Senna assegurou um dos cockpits da Williams para este ano. O posto no time de Grove era, na prática, a única chance de Barrichello ainda permanecer no Mundial e chegar a incrível marca de 20 campeonatos. Sem lugar, o brasileiro acabou procurando os EUA. E os três dias de testes em Sebring no fim de janeiro, a convite de Tony Kanaan, se revelaram muito mais do que uma brincadeira de amigos.

Assim que cumpriu as atividades na pista da Flórida, cujo desempenho impressionou tanto a equipe liderada por Jimmy Vasser quanto os demais pilotos que acompanharam os trabalhos, o piloto voltou ao Brasil com o firme propósito de reunir o aporte financeiro necessário para garantir um lugar como companheiro de Kanaan, mudar de vida e encarar a estreia, aos 39 anos, na categoria norte-americana.

Dois impasses foram criados nesta corrida de Barrichello para se manter na ativa no automobilismo. O primeiro, claro, foi encontrar o dinheiro pedido pela equipe, cerca de US$ 3 milhões. O segundo entrave esbarrou na resistência da esposa. Silvana, e é de conhecimento público, nunca viu com bons olhos as corridas em circuitos ovais e os inúmeros acidentes da Indy nesse tipo de pista. Entretanto, Barrichello acabou persuadindo a esposa e, assegurado financeiramente, inicia nova fase na carreira.

"Antes de tudo, eu queria dizer que essa nova fase da minha vida é uma fase muito feliz. Tudo isso que aconteceu não era esperado. Realmente, do fundo do meu coração, quando o Tony me convidou, eu fui com a cabeça aberta, tentando me divertir mesmo. Mas como piloto profissional, você é bastante competitivo e quer fazer as coisas bem feitas. Então, quando sentei no carro, não tive vontade nenhuma de andar de devagar, mas também não tinha em mente aquilo que viria a acontecer nas próximas dez voltas", explicou Barrichello na coletiva desta manhã.

"Foi um sentimento muito diferente, porque era um carro muito diferente, muito rápido. A partir daí, com todo o carinho e entrosamento da equipe, do bom desenvolvimento do carro, além do Tony, que, para mim, é a razão de tudo isso, as coisas realmente começaram a tomar um rumo diferente e, no fim daquele dia mesmo, eu recebi o convite para ser piloto da KV", completou.

"A partir daí, nós começamos a correr e não só atrás de patrocinadores, mas também de toda a situação em casa. A questão com a Silvana era realmente verdade, porque eu de fato pensava que ia correr 25 anos na F1. E não correr mais de nenhuma outra coisa na vida, talvez só de Stock Car no Brasil. Mas nunca imaginei correr em um oval, por isso eu tinha prometido a ela. Mas tenho de agradecer a ela, porque foi a partir dela que a coisa começou a tomar forma", acrescentou o piloto.

A maior parte do apoio financeiro vem por meio da BMC, a Brasil Máquinas. A empresa, que vende escavadeiras e empilhadeiras, entrou de vez no automobilismo no ano passado, com uma equipe na Stock Car e patrocinando o Desafio das Estrelas. A companhia paulista também já havia manifestado o desejo de patrocinar Barrichello na F1 e, mesmo com o fracasso nas negociações na principal categoria do automobilismo, voltou atrás e será a responsável pela parcela maior dos cerca de R$ 5 milhões exigidos pela KV. “Agora só tenho de agradecer ao apoio da BMC. Sem eles essa brincadeira aqui não seria possível”, disse o piloto, que terá o suporte também da Locaweb e da Embrase.

Ainda antes de sacramentar o acordo com a KV, Barrichello participou de dois dias de testes coletivos com a equipe em Sonoma, no último fim de semana. Na KV, Barrichello terá como companheiros de equipe: o amigo Kanaan e o venezuelano Ernesto Viso.

Rubens vai fazer ainda mais dois treinos preparatórios antes da estreia, sendo que um deles será no oval do Texas, ainda neste mês. "Tudo começou só com os mistos, mas aí o Jimmy falou em Indianápolis também. Eu pensei que não iria gostar muito de ver outro com o meu carro. Além disso, pode ser uma oportunidade única. Então, decidi fazer tudo de uma vez, mistos e ovais. Portanto, posso dizer que estou entrando nessa com muita força, determinação e, acima de tudo, muito feliz", completou.



Quase 20 anos depois, Rubens Barrichello é o primeiro piloto de relevância na F1 a seguir carreira na Indy. O último deles foi Nigel Mansell, que correu nos Estados Unidos entre 1993 e 1994, sempre pela Newman-Haas. O caso do ‘Leão’, no entanto, segue por vias diferentes do caminho traçado pelo piloto brasileiro agora. Após ter dominado a temporada de 1992 e ter sido campeão com a Williams, Mansell, no auge da carreira, surpreendeu o mundo do automobilismo ao aceitar o convite da Paul Newman e Carl Haas para cruzar o Atlântico e disputar a Indy.

Usando o famoso 5 vermelho que o consagrou na F1, Nigel também conquistou o título da categoria norte-americana em 1993. No ano seguinte, o britânico voltou à F1 como substituto de Ayrton Senna na Williams em algumas corridas, vencendo inclusive a última prova daquela temporada, na Austrália. Em 1995, o ‘Leão’ encerrou sua carreira após cumprir algumas provas pela McLaren, que vivia uma fase decadente à época.

Muito antes de Mansell, entretanto, o mesmo caminho foi realizado com sucesso por Emerson Fittipaldi. O bicampeão da F1 resolveu voltar sua atenção para as corridas em ovais norte-americanos em 1984, quatro anos depois da decepção que teve com a equipe que criou na F1. O fato é que Fittipaldi rapidamente se tornou um dos grandes nomes da Indy no fim dos anos 80 e, principalmente, na década de 90. Foram duas vitórias nas 500 Milhas de Indianápolis (1989, pela Patrick, e 1993, pela Penske), além do título em 1989.

Depois de Emerson, a lista dos que decidiram deixar a F1 e atravessar o Atlântico atrás de um novo começo na carreira é grande. Raul Boesel e Maurício Gugelmin talvez sejam os nomes mais marcantes dos anos 80 e 90. É possível também citar Nelson Piquet, ainda que o tricampeão tenha tido uma passagem relâmpago, resumida apenas a duas edições das 500 Milhas de Indianápolis, em 1992 (quando sofreu um grave acidente nos treinos) e 1993, sempre pela Menard.

A partir de 1993, ano em que Mansell conseguiu o título na Indy, o trânsito de pilotos da F1 Europa para a América do Norte foi menor, mesmo com as vindas dos brasileiros Christian Fittipaldi, em 1995, e Roberto Pupo Moreno um ano depois. No fim da década de 90, o movimento ganhou força, com os títulos de Alessandro Zanardi na Cart.



A primeira etapa da termporada de 2012 da Fórmula Indy acontece nas ruas de São Petersburgo, na Flórida, no dia 25 de março.

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