22 de março de 2012

Em temporada turbinada pela estreia de Barrichello, Indy muda tudo.


Não tem como negar que o brasileiro, o americano, o fã de automobilismo e o curioso nato vão cativamente esperar pelo domingo, seja em que fuso horário for, para acompanhar o início da temporada 2012 da Indy. Como pano de fundo um carro totalmente novo e mudanças estruturais na direção da categoria, a grande atração é um novato de quase 40 anos que resolveu se reinventar na carreira.

Rubens Barrichello já ocupa, e bem, o lugar de Danica Patrick. Não se fala outra coisa por aquelas bandas; por estas, já se falou um tanto. E seja qual for o resultado do brasileiro na corrida de São Petersburgo, Flórida, USA, a reação do povo vai ser provavelmente a mesma dos tempos de F1: o maniqueísmo. Se for bem, seus apoiadores vão acender a chama da injustiça da época em que conviveu com Michael Schumacher e asseclas. Indo mal, os detratores vão tratar de espezinhá-lo. E Rubens vai ter de aprender a lidar com isso, só que num ambiente bem mais leve e menos sisudo daquele em que esteve infiltrado por quase 20 anos.

O tanto que Barrichello foi bem nos testes de preparação dão ânimo à parte da balança que o venera. Tem quem fale que Rubens vai seguir direitinho os passos de Nigel Mansell, último grande piloto da F1 que rumou à América, campeão em sua temporada de estreia. Há umas diferenças claras, a começar pelo poderio das equipes. Mansell caiu na Newman-Haas, então equipe top da Indy. Por pressão do ‘irmão’ Tony Kanaan, Barrichello fechou com a KV, que ainda belisca ser grande. E pode ser, sim, com dois pilotos realmente companheiros, que vão se ajudar, diferente do que acontece nas demais, com um pacote que conta com um motor confiável, o da Chevrolet.

A Chevrolet, aliás, volta à categoria, mas é como se fosse uma continuidade do ano passado. Porque sua nova/velha parceira é a Ilmor, que preparava os motores Honda, monopolizadores até o ano passado. A Honda teve de chamar todo seu grupo para criar uma unidade nova. E tem a Lotus, que se lança como montadora, mas que, cá entre nós, vai fazer suas equipes sofrerem um bocado.

E sobre o papo de que as rivais têm pilotos que vão lutar entre si, nada mais natural. Com Kanaan, Barrichello une forças contra a Ganassi, invicta há quatro temporadas, e a Penske, que bate na trave e não há meio de marcar gol. Nem Ganassi nem Penske mudaram seus elencos, e por mais que os carros sejam outros, cada uma ainda vê como líder Dario Franchitti e Will Power, respectivamente. Só que um fator decisivo tira do escocês tetracampeão o favoritismo para a temporada: o aumento do número das corridas em mistos/de rua.

Se antes havia um equilíbrio, a morte de Dan Wheldon no oval de Vegas tratou de riscar do calendário algumas importantes corridas à esquerda. O contrato com Vegas, inclusive, foi quebrado. E provas como Motegi e New Hampshire, na verdade, saíram mais por questões financeiras do que por segurança. O resultado foi uma temporada de 16 provas com 75% de etapas em não-ovais. E neste tipo de pista, Power vem reinando há muito tempo.

Assim, Barrichello, Kanaan, Helio Castroneves e Franchitti, devem lutar contra o carro 12 do australiano, que é o favorito. Tem também Scott Dixon, bicampeão, às vezes relegado, meio que um Mark Webber com mais qualidades — talvez seja a natureza austro-neozelandesa da vida das corridas.

Helio Castroneves é outro que tem em 2012 um ano crucial, assim como Felipe Massa na F1, pois vem de duas temporadas muito ruins na Penske. Bom piloto, pesa de certa forma em sua carreira o fato de não ter conseguido nenhum título na categoria, apesar de as três vitórias em Indianápolis suprirem esta lacuna. É que Helio se tornou uma personalidade muito além das pistas, e isso fica meio confuso na cabeça de quem o vê como meramente um piloto. Ótimo no relacionamento com imprensa e patrocinadores, Castroneves se viu sucumbir diante da chegada de Power, tal como Ryan Briscoe. E mais uma temporada em forma de revés pode fazê-lo rever alguns conceitos, tipo Danica Patrick.

De resto, o Brasil viu cair seu número de representantes fixos. Vitor Meira voltou ao Brasil para experimentar a Stock Car, Raphael Matos está mais para a carreira nos carros de turismo e Bia Figueiredo, outra que não teve um ano bom em 2011, pena para achar recursos que lhe garantam a temporada toda. Ana Beatriz só realizou um teste pela Andretti neste ano, e por esta equipe deve alinhar apenas e tão-somente, por enquanto, no Anhembi e nas 500 Milhas de Indianápolis. São três, então. Mais que na F1, para quem vê a vida sempre pelo lado do copo meio cheio.


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