Fonte: http://www.viajenaviagem.com/
Câmbio é um dos assuntos mais complicados que existem para nós, leigos. São tantas as variáveis envolvidas – a cotação que importa ora é a de compra, ora é a de venda; às vezes o câmbio requer fazer conta de dividir, e outras vezes, de multiplicar; freqüentemente, o que intuímos ser mais lógico é apenas resultado de um raciocínio erroneamente simplista. É uma pegadinha atrás da outra, pessoal.
Num momento de instabilidade cambial tremenda como o atual (de 1% em 1%, o real acabou sofrendo uma maxidesvalorização), a gente, que não entende patavinas de câmbio, tende a enfiar os pés pelas mãos e acaba fazendo mais besteira do que o habitual. Se existir contabilidade criativa em câmbio, não deve estar ao alcance de amadores como você e eu. Só quem garantidamente ganha dinheiro com câmbio é quem está do outro lado do balcão (ou quem compra dólar como investimento de longo prazo, como quem investe em ações).
No câmbio, o dinheiro se torna uma mercadoria. A gente não ‘troca’ dinheiro – a gente vende uma mercadoria que não nos serve (um dinheiro inútil aonde vamos) para comprar uma mercadoria que nos falta (um dinheiro indispensável aonde vamos). É um mundo injusto, onde compram a nossa mercadoria por menos do que vale e nos vendem com sobrepreço uma mercadoria de valor teoricamente equivalente. A única maneira de evitar o preju é entrar para a família do dono do banco ou da corretora.
A maior confusão que vejo nas perguntas que aparecem diariamente nas caixas de comentários é considerar a diferença nominal de valores de moedas como indicador de carestia ou pechincha.
Se dólar custa mais de R$ 4 e o peso mexicano custa R$ 0,30, então é muito mais barato comprar peso mexicano, certo? Errado. A cotação dessa moeda no Brasil (assim como das moedas ‘fracas’ em geral) é desvantajosíssima. O peso mexicano deveria custar, no dia em que pesquisei, no máximo R$ 0,24 (tomando por base o câmbio que você conseguiria no México ao trocar dólares comprados no Brasil). Tem um sobrepreço aí de 20% (muito maior que o IOF que você está querendo economizar!), que você não percebe que existe, só porque está prestando atenção apenas na diferença nominal do peso frente o dólar.
O dólar é o parâmetro pelo qual o real é cotado frente todas as moedas. Quando acontece – como nesse último mês – do real desvalorizar sozinho frente ao dólar, fique certo de que a desvalorização vai se refletir no câmbio frente todas as outras moedas. Quando estive no Peru em junho de 2015, 1 real era comprado a 95 centavos de nuevo sol. Três meses mais tarde, no dia 11 de setembro de 2015, vendi reais em Lima a 68 centavos de nuevo sol. É o mesmo tombo que o real levou frente o dólar.
Conclusão: não fuja do dólar só porque ficou repentinamente mais caro. As outras moedas ficaram repentinamente mais caras também – você é que não estava acompanhando.
Bom. Depois desse blablablá introdutório, aí vão meus conselhos:
Não compre moedas ‘fracas’ no Brasil
O mercado de moedas ‘fracas’ (pesos, soles, rands, florins, liras e quetais) é pequeno e atende apenas a viajantes muito inseguros, que acham que precisam desembarcar em qualquer lugar com alguma moeda do país no bolso. A verdade é que não precisam. Todo aeroporto terá uma casa de câmbio aberta 24 horas junto ao desembarque -- e se é para perder dinheiro, melhor trocar 100 dólares ali do que comprar essas moedas aqui pelo valor que pedem.
Veja esse print de cotações da última sexta-feira, dia 18 de setembro de 2015.
O peso chileno estava sendo vendido a R$ 0,0067 (não sei nem como se pronuncia isso). Parece superbaratíssimo, não? Mas se você levasse seus reais ao Chile, conseguiria 170 pesos por real – ou que significa que bastam R$ 0,0058 para comprar um peso em território chileno. A cotação da corretora brasileira equivale a 150 pesos por real. No aeroporto de Santiago, que tem a pior cotação, te pagam 162!
Não leve reais para nenhum destino fora desta lista
Buenos Aires
Montevidéu, Punta del Este e Colonia del Sacramento
Santiago e Valparaíso
E só!
Nessas cidades existe demanda para reais, então a cotação é vantajosa (nas cidades argentinas, desde que você use o câmbio paralelo).
Para todos os outros lugares, incluindo destinos chilenos e argentinos que não estão listados (Ushuaia, Atacama, El Calafate, Lagos Andinos), leve dólar ou a moeda forte do lugar (libra, euro, dólar canadense, etc).
Sim, eu sei que estou quebrando aquela regrinha de reduzir ao mínimo o número de operações de câmbio -- mas o que vale aqui é a regrinha de não fazer nenhuma operação de câmbio excessivamente desvantajosa. Pode até ser possível trocar reais em outros lugares, mas valerá mais a pena levar moeda forte.
Por exemplo: na sexta dia 18 de setembro de 2015, com o dólar comprado no Brasil a R$ 4,10, 1.000 dólares renderiam 3.190 nuevos soles em Lima. Mas se você trocasse 4.100 reais (o equivalente a 1.000 dólares no Brasil naquele dia), conseguiria apenas 2.788 nuevos soles.
Não compre a moeda ‘errada’ só porque está mais barata
Todo dia me perguntam: com a libra tão cara, será que não é melhor levar euro para Inglaterra? Com o euro tão caro, será que não é melhor levar dólar para a Europa? E outro dia apareceu: com o dólar tão caro, será que não vale a pena levar dólar australiano para os Estados Unidos?
Vale a pena não. Como eu já disse mais acima, na hora de fazer o novo câmbio você vai pagar a diferença e mais o sobrepreço do cambista.
Mas atenção: o que eu não recomendo é comprar dólares para levar para a zona do euro, ou comprar euros para levar para a Inglaterra. Mas se você já tem essa moeda em mãos, vale mais a pena levar e trocar uma vez só, lá. Não troque no Brasil não, porque seriam duas operações de câmbio.
Não compre nem troque em qualquer lugar
Muito mais eficiente do que inventar soluções mirabolantes (tipo levar dólar australiano para a Europa) é tomar mais cuidado na hora de comprar moeda no Brasil e fazer câmbio no exterior.
Aqui no Brasil, não seja comodista: pesquise o dólar menos caro para comprar. O site Jooin traz o comparativo de vários bancos e corretoras para você economizar na compra. Na sexta-feira dia 18, dava para encontrar dólar, já com 0,38% de IOF incluso, de R$ 4,02 a R$ 4,23. É muita variação!
E no exterior, se precisar cambiar a moeda que comprou no Brasil, troque o mínimo indispensável em aeroportos, nos fins de semana e em lugares próximos a atrações turísticas. (Veja aqui as minhas dicas de Santiago e Buenos Aires.)
Na Europa, descubra agências bancárias com setor de câmbio – a cotação sempre é melhor do que a de casas de câmbio de rua. No Leste Europeu, algumas casas de câmbio de rua são tão salafrárias quanto os motoristas de táxi – assim que o real estabilizar de novo (#oremos) eu indicaria usar o cartão de crédito só para não passar raiva.
Na dúvida, vá de dólar
Com exceção dos ciclos em que o real se valoriza frente o dólar (saudades!!!!), comprar dólar é sempre um bom negócio. Mesmo naqueles destinos daquela lista onde dá para levar real, o dólar bem comprado no Brasil terá uma boa performance (e servirá como garantia contra a desvalorização do real durante a sua viagem....).
No longo prazo, então... ninguém se arrepende de juntar dólar. O pessoal que agüentou esses anos em que o dólar foi o pior investimento hoje está rindo à toa.
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