26 de março de 2013

Desonesto com Webber, Vettel pôs caráter em xeque?

Por Marcello Muniz: Resolvi postar essa coluna pois a mesma tem muitas opiniões das quais comungo, não só em relação a esse fato, mas para a vida!

Fonte: http://grandepremio.com.br , na coluna: Opinião GP.

A F1 escreveu mais uma página controversa em sua história no último domingo (24), pois o GP da Malásia, corrida mais polêmica dos últimos tempos na F1, acabou sendo marcado por uma grande falha do tricampeão mundial Sebastian Vettel. Não uma falha cometida na pista, mas algo muito pior, que transcende até mesmo a esfera esportiva. Sebastian sacaneou e foi desonesto ao atacar e ultrapassar, em condições desiguais, seu companheiro de Red Bull, Mark Webber, na parte final da prova, deixando insatisfeito até mesmo a cúpula da equipe, outrora sempre defensora do jovem alemão. 

Vettel venceu na pista, mas foi o grande perdedor do fim de semana.


Sebastian, aliás, entrou para a galeria dos grandes campeões mundiais de F1 que fizeram o nome pelos seus feitos nas pistas, mas também tiveram carreiras maculadas pela falta de honestidade em alguns momentos. Michael Schumacher, Alain Prost e o próprio Ayrton Senna já foram antagonistas de casos semelhantes em um passado não muito distante. Vettel, igualmente, agiu com falta de honestidade e espírito esportivo, algo que mancha sua carreira até então só repleta de glórias.

O momento que era para ser de festa acabou reservando algumas cenas surreais no pódio e na entrevista coletiva destinada aos três primeiros colocados. Apesar do bom resultado conquistado, Vettel, Webber e Lewis Hamilton não pareciam nada satisfeitos por ali estarem naquela situação. O tricampeão pediu desculpas a Webber, enquanto Lewis, no seu primeiro pódio pela Mercedes, disse que Nico Rosberg, seu companheiro de equipe e que vinha muito mais rápido no fim da prova, era quem merecia estar no top-3.

Após a quarta janela para troca de pneus, Webber liderava a corrida com razoável tranquilidade, seguido por Vettel, que conseguiu superar a Mercedes de Hamilton que, por sua vez, passava a receber a pressão do seu novo companheiro de equipe, Nico Rosberg. O veterano Mark tinha a vitória nas mãos ao receber, via rádio, a instrução ‘Multi 21’. Webber mudou o mapeamento do motor para segurar o ritmo e poupar equipamento até o fim da corrida. Vettel recebeu a mesma instrução e, segundo a equipe, teria de cumpri-la, em igualdade de condições com o companheiro de equipe, mas ignorou e não acatou a orientação da Red Bull. Webber, com um carro de performance desigual ao de Vettel, lutou bravamente, como um leão, mas não conseguiu manter a primeira posição.

Rosberg, meio a contragosto, acabou acatando a decisão de Ross Brawn e não partiu para cima de Hamilton, mas mostrou que tinha carro e ritmo para ganhar de Lewis o primeiro pódio da Mercedes em um 2013 que parece ser bastante promissor. Diplomático, Nico evitou o desgaste dentro da equipe, postura diferente em relação a Sebastian, que maculou sua carreira. Não por um mero gesto de desobediência à sua equipe, mas sim por atacar seu companheiro de equipe que sabidamente reduziu o ritmo do seu motor, imaginando que ele, Vettel, também o faria, tornando o jogo de forças desigual demais na luta pela vitória.

Em Sepang Vettel chegou a sua 27ª vitória na carreira, igualando a marca de outro tricampeão, Jackie Stewart, contudo, certamente, a conquista na Malásia foi uma das menos comemoradas pelo piloto, que até venceu na pista, mas perdeu muito, mas muito mesmo, fora dela. 

Sebastian sentiu que falhou não só com Webber, mas com toda a equipe: “Cometi um grande erro hoje. Nós deveríamos ter permanecido nas posições em que estávamos. Deveria ter me comportado melhor”, disse, totalmente constrangido e se assumindo como a “ovelha negra” da Red Bull.

No Opinião GP desta segunda-feira (25) pós-GP da Malásia, os jornalistas do Grande Prêmio analisam os acontecimentos da polêmica corrida em Sepang, que colocou pela primeira vez em três anos Felipe Massa à frente de Fernando Alonso na classificação do Mundial de Pilotos, algo que, obviamente, ficou em quarto ou quinto plano por conta da infantilidade de Vettel no domingo em uma corrida que, no fim das contas, também ficou em segundo plano.

“A corrida em si pouco importa diante dos dois casos que evidenciam essa pobreza de espírito (não só esportivo) que as equipes de F1 demonstram, sobretudo num início de temporada”, disse Victor Martins, editor-executivo do Grande Prêmio e da Revista Warm Up. “Não é questão de zelo ou justiça que se apregoa: virou regra do jogo um companheiro de equipe não atacar o outro no trecho final de uma corrida, herança maldita e nefasta dos tempos de Ferrari de Ross Brawn e Jean Todt.”

Para Flavio Gomes, diretor da Agência Warm Up e do Grande Prêmio, a grande culpada por acontecimentos desse tipo são as equipes da F1. “Na origem de tudo, está a atitude das equipes. O medo de acontecer algum imprevisto é que leva a esse tipo de instrução. Se esses caras falassem menos e tivessem menos paúra, a vida seria melhor e as coisas se resolveriam onde devem se resolver: na pista.”

Gomes recorda uma desobediência histórica para criticar o ato de Vettel. “Em 1989, Senna e Prost viraram inimigos em Imola porque o combinado com a McLaren era que um não atacaria o outro nas primeiras voltas, quando a chance de dar alguma merda é enorme. Mas Senna não obedeceu. E deixou Prost em desvantagem. Passou e ganhou. Prost ficou puto. Porque se soubesse que Senna não faria o que tinha sido combinado, ele também não faria”, escreveu.

“Vettel foi sacana. Se jogasse honestamente, teria dito pelo maldito rádio: não vou aliviar e não vou colocar meu motor para baixo, não quero saber de “Multi 21″. Aí alguém diria a Webber: bonitão, esquece o que tínhamos combinado e o “Multi 21″, vocês que se virem. Eu, se fosse o chefe de equipe, diria isso, desligaria o rádio e ficaria na minha. E as condições seriam iguais para ambos. Que vença o melhor”, acrescentou.

“É legal a gana de vencer, demonstrada por Senna em 1989 e por Vettel hoje? 

É. Mas não desse jeito. É preciso ser honesto com seu companheiro. E Vettel não foi”, opinou Flavio. Ivan Capelli, blogueiro e colaborador do Grande Prêmio e da Revista Warm Up, vai na mesma linha de Gomes. “Webber obedeceu ordens, reduziu a potência, diminuiu o ritmo. Vettel ligou o foda-se, passou e não deu ao companheiro a chance de brigar em igualdade. Foi traíra. E de traíra ninguém gosta.”

Segundo Martins, a atitude de Vettel foi tão desnecessária que o próprio piloto pareceu arrependido assim que recebeu a bandeirada. “Vettel nunca deveria se permitir fazer aquilo, porque não precisa daquilo. Vettel conquistou três títulos brilhantemente sem puxar o tapete de ninguém. De qualquer forma, sentiu que errou de pronto.”

Vettel desceu do carro e comemorou, por assim dizer, contidamente, não esboçou sorriso de imediato e baixou a cabeça diante do olhar furioso e viral de Webber tão logo os dois se encontraram na antessala do pódio. Arrependeu-se, humano que é, quem nunca fez cagada homérica e federal na vida? 

E até mesmo seus maiores defensores na Red Bull, tipo Helmut Marko, demonstraram estranheza e repulsa à atitude. Uma não vitória, para resumir”, afirmou.

Em nosso país alguns estão achando maravilhoso o que Vettel fez, mas certamente haveriam de ficar contrariados se fosse Stefano Domenicali pedindo para que Massa deixasse Alonso passar porque Fernando está mais rápido que ele, ou ainda pedindo que Felipe segurasse a peruca e visse o espanhol deitar e rolar. 

Além de caráter, gente, critério é bom, e nunca devemos querer dois pesos e duas medidas, mas sim, chances iguais entre os iguais.

No fim das contas, o esporte acaba sendo uma extensão da vida como um todo, onde não vale vencer e levar vantagem em tudo a qualquer custo. “O esporte determina que o melhor vença dentro das regras e, de preferência, sem interferências externas. Mas tem coisas que ficam acima do esporte. Caráter. Combinou algo com alguém, cumpra, honre, faça valer sua palavra. É questão de princípio e de confiança. Vale não só para o trabalho, para aquela coisa toda de amizade, de se contar nos dedos as pessoas que se têm do lado”, escreveu Victor.

Erros fazem parte da vida do ser humano, seja ele uma pessoa simples ou um multicampeão mundial, como Vettel. Quem é que jamais cometeu um grave erro na vida? 

Mas os erros machucam e deixam manchas que ficam para sempre, como finaliza Martins. “ao ganhar a qualquer custo, Vettel entrou devidamente para o rol dos grandes campeões — aqueles que têm máculas na carreira pela falta de honestidade. Vai dele carregar, não para a F1, mas para a vida, mostrar que o que fez em Sepang foi um lapso e uma exceção. Esta vitória terá um gosto muito maior se Vettel souber ganhar.”


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