24 de junho de 2013

Estrangeiros apontam transporte como maior problema da Copa das Confederações.

Termômetro para avaliar a qualidade da organização de grandes eventos, a imprensa internacional presente no Brasil para cobrir a Copa das Confederações é praticamente unânime ao apontar o transporte como maior problema do país. O iG Esporte colheu as opiniões de dez jornalistas de diversas nacionalidades e quase todos apontaram esse como o principal fator a ser melhorado para a Copa de 2014.
Mas as críticas não se limitaram ao transporte. Também foram "alvos" dos estrangeiros aspectos como os altos preços, a violência, a dificuldade com comunicação e detalhes organizacionais, como falta de informação na chegada aos estádios, banheiros sem sabonete e até as baixas temperaturas nos centro de imprensa, táxis e ônibus por causa do ar condicionado.
Além das reclamações, também existem, claro, elogios. A simpatia, gentileza e atenção dos voluntários são os principais pontos positivos, além da qualidade dos estádios após as reformas pelas quais passaram. Confira abaixo a análise por tópicos dos temas comentados pelos jornalistas ouvidos.
As grandes distâncias entre áreas hoteleiras e estádios definitivamente não eram esperadas pelos jornalistas estrangeiros. "Os maiores problemas aqui são a distância e o tráfego. É muito, muito longe vir dos hotéis, na Barra da Tijuca, para os estádios. O [técnico italiano Cesare] Prandelli deciciu fazer só um treino por dia porque seria loucura vir de manhã, voltar para o hotel e vir à tarde de novo", diz o italiano Stefano Salandin, do jornal Tuttosport, de Turim, sobre a dificuldade de locomoção no Rio de Janeiro.
O uruguaio Marin Kesman, que esteve no Recife e em Salvador, até perdeu a hora para trabalhar por causa do trânsito. "Ontem fui ao hotel de táxi e levei três horas na ida e na volta. Isso atrasa muito o trabalho. Não pude narrar o jogo do Brasil", lamenta. O espanho Juan Castro, do jornal Marca, chamou o trânsito da capital pernambucana de "atroz", enquanto o inglês Chris Wright, da agência AFP, fez uma análise mais aprofundada.
"Acho que deveria ter havido um esforço anterior na área de transporte, para as pessoas em geral, não apenas para a imprensa. Sei que o Brasil não é o Japão, mas acho estranho que o trem bala não vá ficar pronto antes das Olimpíadas. Esses investimentos são importantes e a hora para fazê-los era agora, mesmo que fosse necessário trazer uma companhia alemã ou japonesa", diz.
Ainda em relação a transporte, uma reclamação de Jose Mastandrea, enviado do El Pais, foi o preço dos táxis no Recife. "As distâncias são enormes, um táxi do hotel onde estava a Celeste [seleção do Uruguai] até a Arena Pernambuco sai entre 70 e 80 reais. Ou seja, quase 1600 pesos uruguais de ida e volta".
Wright, novamente, fez uma análise mais ampla. "Eu diria que a pior coisa são os preços. Claramente os hotéis vão tentar tirar o maior lucro possível, mas muitos outros custos são simplesmente ridículos. Mas talvez esse seja o custo de vida por aqui em geral, então não é por causa da Copa".
Especificamente sobre os preços nos estádios, seu colega Yann Bernal faz a crítica: "Outra lamentação é em relação aos preços de comida e bebida no centro de mídia. Tudo muito caro".
Além dos grandes problemas, os jornalistas apontaram uma série de outros pontos de menor importância, que podem não ser decisivos para o bom andamento de um evento, mas que poderiam melhorar para 2014. Bernal criticou, por exemplo, o alto volume do sistema de som na Arena Pernambuco durante o jogo entre Espanha e Uruguai: "Acima de qualquer recomendação, foi muito doloroso ouvir".
O italiano Salandin mostrou bom humor, mas falou a sério quando criticou o exagero no uso de ar condicionado no Brasil. "Para mim foi o maior problema. No centro de imprensa, nos táxis, o ar condicionado é muito forte. Impossível ficar lá", desabafa.
Para o sul-africano Heinrich Petrus, o Brasil está praticamente pronto. Mas ele revelou muita dificuldade com comunicação. "Sofremos muito para comprar um chip de celular. Não conseguíamos achar em lugar nenhum e, quando achamos, demorava 24 horas para começar a funcionar. Estamos com duas equipes em cidades diferentes e isso atrapalhou muito a nossa comunicação", diz o jornalista da rede de TV SABC.
Felipe Monforte, produtor do Yahoo! México, criticou especialmente o planejamento da chegada ao estádio do Castelão, em Fortaleza: "A polícia fechou todas as ruas e, apesar de estarmos credenciados, não nos deixaram passar. Tivemos de caminhar com equipamento nas costas por dois quilômetros debaixo de um calor de 40º C".
O experiente Kesman mais uma vez não perdoou e fez uma crítica generalizada: "A organização é ruim, falta água, comida durante os jogos, se você vai ao banheiro não tem sabonete". E Yann Bernal criticou o centro de mídia do Recife, que "ignorou" o primeiro tempo de Brasil x Japão em suas TVs.
Embora apontem problemas em diversos quesitos organizacionais, os representantes da imprensa estrangeira parecem não ter tido qualquer problema no convívio com as pessoas no Brasil. Quase todos citaram, em algum momento, a boa vontade de todos os voluntários e dos brasileiros em geral.
"Positivamente aponto os voluntários, todos muito gentis, atenciosos e eficientes", disse Bernal, cuja opinião foi validada por outros colegas. "Voluntários muito atenciosos e amigáveis, nada a reclamar", disse o italiano Salandin. "O clima é ótimo e todos os brasileiros que conheci foram muito amigáveis e solícitos. Muitos falam inglês e isso me surpreendeu", elogiou Tom Williams, repórter da AFP.
Dos seis estádios utilizados na Copa das Confederações, apenas a Arena Pernambuco recebeu críticas mais incisivas, por conta de aspectos não concluídos e do excesso de barro no seu entorno. Chris Wright questionou ainda qual será a frequência de uso do estádio no futuro, após a Copa das Confederações e a Copa do Mundo.
Sobre o Maracanã, Stefano Salandin fez grandes elogios, mas também lamentou a mudança radical. "Ficou fantástico, mas perdeu totalmente a identidade. Hoje, se você descer de helicóptero no gramado não vai ver diferença entre o Maracanã e o estádio de Cracóvia que recebeu jogos da Eurocopa ano passado".

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