O medo de Dilma Rousseff, do governo brasileiro é enorme.
Na reunião emergencial que acontece em Brasília, o tema é futebol. E vai muito além da Copa das Confederações. Mas a própria Copa do Mundo de 2014.
Para terminar o torneio laboratório, Dilma e os governadores dão garantia Vão reforçar ainda mais a segurança nos hotéis onde estão as delegações. E principalmente os membros da Fifa. Assim como seus trajetos pelo País serão monitorados.
Restam exatos nove dias para a competição acabar. São apenas oito seleções envolvidas.
Quatro já irão embora depois deste final de semana, eliminadas. Japão, México, Taiti e Nigéria. Ficarão Brasil, Espanha, Itália e Uruguai. Só quatro equipes por mais uma semana.
O grande problema é mesmo a Copa do Mundo. A rejeição só cresce à competição de R$ 30 bilhões. Envolve 32 seleções. A proteção de 32 delegações espalhadas pelo país. Torcidas do mundo todo.
12 nova arenas caríssimas, com 80% de dinheiro público. Elefantes brancos como Cuiabá, Manaus, Natal e Brasília. Onde o futebol competitivo, de elite não existe. Há a garantia de que os estádios ficarão vazios durante o ano todo. Pelo menos R$ 2 milhões irão para o lixo por ano só na manutenção do quarteto.
As obras de mobilidade social não saíram do papel. As cidades sedes de jogos decretam feriados para os torcedores chegarem nos estádios. Mesmo assim é um transtorno. Se perde pelo menos duas horas. Isso sem os manifestantes atrapalhando. Os aeroportos não foram modernizados, como prometido. Não haverá legado algum. A não ser estádios superfaturados. E um gasto desnecessário de R$ 30 bilhões.
O cenário só tende a piorar nos próximos 12 meses. Parte da população percebeu o desperdício. A prioridade dos gastos deveria ser para a saúde, educação, segurança.
A Fifa quer do governo brasileiro a garantia sobre a Copa do Mundo. É o principal evento da entidade. Mais de 150 países acompanham a competição. E todos pagando caro pela transmissão. Patrocinadores bilionários estão envolvidos.
Não há a felicidade prometida. A rejeição ao mundial já afeta as marcas. O Fuleco, triste tatu símbolo do mundial, é atacado pelo país. Passaram a ser destruídos em uma mensagem clara da revolta com o Mundial. Os R$ 30 bilhões gastos pelo Brasil são ínfimos perto de todo envolvimento.
Um ano é prazo mais do que suficiente para um plano emergencial. Para que um país rico assuma a competição. Como os sempre generosos Estados Unidos. A possibilidade de ter um plano B virou obsessão para a Fifa.
Os países vivem grande convulsão social. Isso foi levado em conta na escolha das três sedes das próximas Copas. Brasil, Rússia e Catar deveriam ser opções seguras. De acordo com jornalistas ingleses, houve três critérios na seleção. Terem governos seguros, estáveis. Imprensa fraca, omissa. E, principalmente, populações dóceis como carneiros.
Quando Lula se envolveu na questão tinha outros objetivos. Era 2007. Ele tinha a certeza de que se conseguisse o Mundial o efeito colateral seria fantástico. A Copa do Mundo cai em anos eleitorais. Depois de dois mandatos no cargo, ganhar a Copa garantiria Dilma em 2010. E também em 2014. Ou seja, mais oito anos de poder do PT. Seriam 16 anos de domínio.
Subestimou a visão da população. Nunca imaginou a revolta diante do custo absurdo de uma competição de 30 dias. Tanto que sumiu do noticiário de propósito. Não sabe como se colocar em relação à revolta popular.
A Fifa não quer saber. Em Salvador as pedras dos manifestantes já acertam seus carros e houve, ontem, uma tentativa de invasão ao hotel onde seus membros estão.
Joseph Blatter passou pelo maior vexame como presidente da entidade em Brasília. Nunca teve a abertura de uma competição vaiada pela torcida. O vexame que passou ao lado de Dilma pode ser esquecido. Mas não os bilhões que a Fifa já contabilizava como lucro pela Copa. A quantia divulgada seria de R$ 5 bilhões. Mas há a certeza da imprensa internacional que o ganho será bem maior.
As delegações que estão na Copa das Confederações estão tensas. O Brasil foi vendido como um país de gente pacífica, dócil. Com mulheres bonitas, alegres, sempre dispostas a festas. A maior preocupação com a família dos jogadores era o ciúme. Não poderiam imaginar encontrar manifestantes raivosos. O futebol foi associado à corrupção, ao descaso do governo com a população. Os jogadores acompanham assustados os protestos. A população invadindo as ruas e os governantes sem saber o que fazer.
Não bastasse isso, vexames tradicionais. Como jogadores da Espanha terem seu dinheiro roubado em hotéis brasileiros. Repórter inglês que cobriu a reabertura do Maracanã escapou de assalto a faca. Equipe brasileira que trabalha para o Japão teve suas câmeras furtadas em Porto Alegre. Fotógrafo japonês viu seu material ser roubado em pleno gramado de Brasília. Susana Werner, esposa do goleiro Júlio César, anunciando ao mundo pelo twitter que foi roubada. Com arma apontada para sua cabeça em Fortaleza. Os jogadores de fora estão pedindo para seus familiares irem embora. Antes mesmo do torneio acabar. De acordo com jornalistas espanhóis é o que acontece com Shakira. Mal ela desembarcou com o filho de Piqué, Milan, no Rio. E já ouviu que é melhor irem embora por causa dos conflitos. No seu jato particular que os trouxe.
Os roubos se acumulam nos estádios. Assim como a repressão violenta da polícia aos manifestantes. A violência já havia espantado os turistas da Copa das Confederações. Menos de 3% compraram ingressos para os jogos. Mais do que um fracasso, um aviso. O Brasil passou a ser país perigoso, não recomendado. As autoridades brasileiras não enxergaram o óbvio. E se prepararam para receber os turistas que não apareceram.
Vários taxistas desonestos continuam trabalhando nas sedes da Copa das Confederações, principalmente nos aeroportos. Os hotéis aumentaram absurdamente o preço de seus quartos, e os explorados são os próprios torcedores brasileiros que acompanham o torneio.
O ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, jurou que fecharia os hotéis aproveitadores. Bravata que não levou a nada. Eles continuam fazendo a festa, sangrando os nativos, pois os estrangeiros não vieram.
Nos estádios, seguranças imploram para jornalistas. Pedem que não saiam sozinhos para tentar tomar táxi. Os assaltos são comuns perto das arenas. A situação é vergonhosa. Foi assim em Brasília, Fortaleza e em Salvador. O medo domina a Copa das Confederações.
A repressão policial é cada vez mais violenta. Mistura raiva e despreparo com tiros de borracha dados a esmo, spray de pimenta e bombas de efeito moral à vontade.
Mesmo assim é possível levar a Copa das Confederações até o final. Cancelá-la traria a certeza de desistir do Mundial. O governo quer mantê-la de qualquer maneira. Não há como garantir a Copa.
O que interessa à Fifa é o acordo assinado com o governo brasileiro. O comprometimento com o Mundial. Há uma multa caríssima se o Brasil desistir. Tudo está assinado desde 2007, pelo então presidente Lula. Mas ele e Blatter não previam os manifestos. Há a possibilidade de que os dois lados optem pela desistência. A Fifa também não vai querer organizar uma competição rejeitada pela população.
Foi o caso da Colômbia em 1982. O governo se negou a construir 12 novos estádios exigidos pela entidade. Os da primeira fase deveriam ter 40 mil pessoas, os da segunda fase, 60 mil e os da decisão da competição, 80 mil. Os colombianos alegaram não ter condição financeira. A Fifa alegou falta de segurança. E a competição voltou foi para o México, em 1986. A decisão da Colômbia aconteceu quatro anos antes do Mundial.
Pela avaliação prévia de pessoas ligadas à Fifa, só há uma opção. Que possa abrigar a Copa em apenas 12 meses. Seria os Estados Unidos. Com estádios modernos e sem grandes problemas de mobilidade social. Há a crise financeira. Ela poderia ser até um atrativo, já que a competição levaria dinheiro.
Para Dilma o fracasso seria imenso, com reflexo no pleito eleitoral de 2014, sonhado por Lula. Mas a Fifa não está brincando. Joseph Blatter diante de tanta pressão foi para a Turquia. Começa hoje o Mundial sub-20. Ele não quis ficar para acompanhar a Copa das Confederações, mas sabe tudo o que está acontecendo. As ordens são claras, que não tiver condições se cancele, não só o torneio como o Mundial do Brasil.
Os manifestantes estão conseguindo ir além do que sonhavam. Não é só a Copa das Confederações que está em risco, mas o próprio Mundial por aqui ,e com isso algo inédito poderia acontecer, o Brasil, "país do futebol", poderia ficar de fora da Copa do Mundo, pois perderia a vaga de país sede, e como não participa das eliminatórias, talvez deva ficar sem uma das 32 vagas.
Como pelo rodízio deve ser mantida na América... Os Estados Unidos poderia surgir como plano B.
Sim, a Copa do Mundo de 2014. Aquela que Lula e Ricardo Teixeira trouxeram vibrando para o Brasil. Teixeira sonhava que, com ela, comandaria a Fifa. Acabou exilado em Boca Raton e o futuro de Lula, Dilma depende do futebol. Não como sonhava o ex-presidente.
Os protestos devem ser ainda maiores até o final da Copa das Confederações. O que será péssimo para o governo federal. E piorar sua relação com a Fifa, que está por um fio.
Foi muito bem escolhido o lema dos manifestantes.
"O gigante acordou..."
Nenhum comentário:
Postar um comentário