1 de setembro de 2009

FIA confirma investigação sobre incidente em corrida no ano passado

Entidade não mencionou corrida que será analisada; Reginaldo Leme disse que incidente no GP de Cingapura, envolvendo Nelsinho Piquet e a Renault, foi premeditado.
A postura de Flavio Briatore foi colocada em xeque neste domingo (30) por conta da vitória de Fernando Alonso no GP de Cingapura do ano passado. A FIA confirmou após a prova de hoje em Spa-Francorchamps, vencida por Kimi Raikkonen, que está investigando "alegados incidentes" em uma prova anterior do Mundial de F1, mas não mencionou o que houve e nem qual a corrida investigada. Porém, a confirmação surge após a revelação de Reginaldo Leme, colunista do Grande Prêmio e comentarista da TV Globo, feita durante a transmissão do GP da Bélgica, de que o chefe de equipe da Renault premeditou e forçou Nelsinho Piquet a sofrer o acidente que mudou o andamento da prova noturna.Na corrida cingapuriana, o vencedor Alonso ficou apenas com a 15ª colocação no grid de largada, uma à frente do seu companheiro Piquet. O espanhol, entretanto, utilizou uma estratégia de sair com pouco combustível e fez seu pit-stop após apenas 12 voltas, enquanto Nelsinho disse que tinha a estratégia de fazer um primeiro trecho bastante longo.Porém, a corrida durou pouco para o brasileiro. Logo após a saída de Alonso dos boxes, Piquet rodou em uma curva e acertou o muro de proteção, provocando a entrada do safety-car na pista. E, após as paradas dos demais pilotos — incluindo a que derrubou Felipe Massa, então líder, que foi prejudicado por um erro da Ferrari —, o bicampeão apareceu na frente, conquistando sua primeira vitória no ano.Nelsinho explicou o que houve após retornar aos boxes. "Foi um erro meu. Nós tentamos duas estratégias bem diferentes, comigo andando pesado e Fernando bem leve, esperando por um safety-car. Se eu não tivesse batido, teria tido sorte com as outras bandeiras amarelas. Mas estamos sempre andando próximos ao muro, e quando você toca na parede, perde controle e era isso", disse o piloto.
Por Victor Martins:
SÃO PAULO Garantia. Pressão e terror. Vendetta. Delação premiada.

A história de Nelsinho Piquet e Flavio Briatore em Cingapura no ano passado deve resultar em algo pesado. Principalmente porque no cerne da questão está alguém que “todo mundo quer matar”, cuja cabeça foi entregue por alguém que sabia de muita coisa a gente que de fato tem o mesmo desejo de vê-la como prêmio.

É fato que houve um delator, e especular quem foi fica a cargo de cada um. Antonio Pizzonia, vizinho e amigo de Nelsinho Piquet, e Lucas Di Grassi, piloto da Renault, haviam indicado que uma artilharia das mais pesadas estava por vir.

Remontando o caso: 2008 para a Renault foi muito ruim, mesmo tendo de volta Fernando Alonso. O R28 era um carro fraquíssimo, e a montadora, via presidente Carlos Ghosn, vinha dando claros sinais de que só estava na F1 como plataforma de venda de seus carros de passeio. Sem vitórias, simplesmente sairia da categoria. Havia toda a especulação de que Alonso poderia ir para a Ferrari. E Piquet vinha numa temporada de mediana para baixo, só com aquele pódio irreal em Hockenheim, e uma série de batidas, rodadas e maus desempenhos no bolso.

Considerando que houve a armação, coloco uma hipótese que considero plausível: a trama não deve ter sido idealizada minutos antes da corrida. Já que Alonso, com problemas no treino de classificação, largava em 15º, o plano foi bolado no sábado da noite e nas primeiras horas do domingo. Notem que os pilotos que hoje largam de 11º para cima geralmente estão pesados para se beneficiarem das paradas dos ponteiros, que sempre partem mais leves. A estratégia feita para Alonso foi justamente inversa: estar leve, parar mais cedo até que os primeiros colocados, pegá-los de surpresa com um safety-car arranjado.

O que quero dizer com isso é que, se isso aconteceu, Alonso também é cúmplice da história. E isso me remete ao caso de doping dos cinco atletas brasileiros às vésperas do Mundial de Atletismo realizado em Berlim. Todos eles podem até não saber a substância dopante e não terem tido nenhuma intenção de se beneficiarem, só que, na ingenuidade ou na tentativa de esperteza, estavam envolvidos em um plano que poderia trazer a eles benefícios.
Nelsinho, sofrer mais um acidente em condições normais resultaria, naquele momento, uma substituição por Lucas Di Grassi. É possível pensar, então, que espatifar o carro no muro daquela forma, voltas depois de Alonso ter trocado os pneus e reabastecido, para entrada do SC e consequente ascensão do espanhol às primeiras posições, representava uma garantia de que Piquet ao menos continuaria até o fim da temporada na equipe e seria um ponto cabal para renovação do contrato para 2009.

Acordo garantido, ainda que com cláusulas de performance, Piquet sofreu nas mãos de Briatore. Várias foram as vezes que, como contei aqui tempos atrás, o dirigente lembrava das linhas e alíneas do contrato ao brasileiro momentos antes da largada. Veio a demissão, ou num eufemismo, a separação mútua. A vingança sempre esteve nos pratos dos Piquet. E aí houve a ebulição do fato em Cingapura.

Não pensar que a história vai espirrar além de Briatore pode indicar um caso de delação premiada. Só assim para imaginar que haja um escudo em Nelsinho, para que sua carreira não ganhe uma mancha que já existe pelo que apresentou em 28 corridas. A Alonso, é de se duvidar que sobre algo, mesmo, repito, tendo sido peça do benefício de uma armação. E para a Renault, bem, o resultado desta investigação, cujos documentos e provas parecem ser passadas, é o mote mais do que suficiente para que mande esse negócio de F1 definitivamente às favas.


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