27 de abril de 2013

Michael Andretti: “Ninguém me queria na McLaren.”


Fonte: http://revista.warmup.com.br

Há 20 anos, Michael Andretti, campeão da Indy em 1991, estreava na McLaren carregando sobre si uma enorme expectativa. Filho do último norte-americano campeão da F1, Mario Andretti, em 1978, Michael era uma promessa, mas no lugar errado e na hora errada. Ele colecionou problemas e não durou mais do que dez meses na categoria máxima do automobilismo. À Revista WARM UP em São Petersburgo, o ex-piloto e atual chefe de equipe na Indy relembrou sua passagem pela F1. 

Aqui trago apenas uma parte dessa entrevista:

Revista WARM UP: Sua estreia na F1 completou 20 anos no último dia 14 de março. Que recordações você traz da sua passagem pela categoria? 
Michael Andretti: Não são memórias boas, com certeza. A única boa parte da experiência para mim foi conhecer Ayrton. Ele era um grande cara, um grande companheiro de equipe e um grande apoiador. Foi a melhor parte. Fora isso, realmente não foram coisas muito boas. No Brasil, eu me classifiquei bem, em quinto, mas a corrida acabou na primeira curva quando a troca de marcha não entrou e acabamos batendo.

WUp: Como era o relacionamento entre você e Senna? 

MA: Tivemos uma relação muito boa. Para se ter uma ideia, depois que eu saí [da F1], a minha primeira corrida foi na Austrália, e ele foi o primeiro a me ligar para me dar os parabéns. Ele passou a noite acordado no Brasil assistindo à corrida e estava feliz por mim. Quando fui liberado pela McLaren, ele deu uma entrevista coletiva para contar a todos o quão injustamente eu fui tratado. É o tipo de cara que ele era e esse é o tipo de relação que nós tivemos.

WUp: Fora do ambiente de trabalho, vocês conversavam? Eram amigos?
MA: Estávamos começando a ficar próximos quando ele morreu. Sim, eu o chamaria de amigo. Eu não deveria contar histórias, mas era muito divertido. Ayrton era louco. Fazia coisas e piadas engraçadas, especialmente se estivesse junto com Gerhard Berger. Era engraçado. Era uma boa pessoa.

WUp: Por que Senna falou que sua saída da McLaren foi injusta?
MA: Ele viu como eu fui tratado no time. Eu não quero entrar em detalhes, mas ele viu o que aconteceu. Ele sabia o que estava acontecendo comigo, sabia que não era justo.

WUp: Muita gente diz que Senna era centralizador. Você sentiu isso no período em que trabalharam juntos? 
MA: Não. Ele era muito bom comigo, aberto, ajudava em qualquer momento em que eu perguntasse. Ele era um bom companheiro de equipe.

WUp: Ir para a F1 foi um erro? 
MA: Sim. Não vou entrar em detalhes agora, nem culpar ninguém, mas, quando olho para trás, não havia como eu ter sucesso. Eu não ia ter sucesso. Se eu tivesse a experiência que tenho agora, não teria ido para a F1. No papel, quando você olha para a oportunidade, nem pensa, ‘é claro que tenho que fazer isso’. É por isso que eu fiz. Mas depois do meu primeiro teste, eu senti todo o ambiente e pensei: ‘Ninguém me quer aqui. Isso não vai funcionar’. Eu sabia disso.

WUp: Quando caiu a ficha de que você deveria voltar para os Estados Unidos? 
MA: Depois do primeiro teste, acho que eu sabia. ‘Algo não está certo aqui’, senti. Mas, provavelmente depois de Magny-Cours eu pensei: ‘Não acho que estarei aqui no próximo ano’. Não foi uma escolha minha. Apenas pensei: ‘Não vou durar aqui’. Naquele momento, estava pensando se eles iam me forçar a sair antes do fim do ano, como aconteceu.

WUp: Seu pai foi campeão mundial de F1. O que ele lhe falou sobre as diferenças entre a época dele e a sua? 
MA: Era muito diferente. Quando estive na F1, ela era diferente da F1 em que ele pilotou. Ela se tornou muito mais política. Eu acho que ele ficou tão surpreso quanto eu fiquei. Houve um momento em que eu quase fiquei nos Estados Unidos e ele me disse: ‘Você precisa pegar essa oportunidade, é a melhor oportunidade’. E depois que eu peguei, desejei que não tivesse escutado aquilo.

WUp: Você ainda tem amigos na F1? 
MA: Ahn... Não... Eu chamaria Rubens Barrichello de amigo. Mas não, não conheço os outros caras que estão lá.

WUp: Você e Barrichello eram novatos na F1 em 1993. A amizade vem desde aquele tempo? 
MA: Lá foi onde nós nos conhecemos. Ele sempre foi muito legal comigo, mas acho que ficamos mais amigos por causa de Tony [Kanaan], porque, quando Tony andava conosco, nós nos encontramos mais vezes. Na F1, nós conversamos algumas vezes, mas apenas éramos legais um com o outro, não realmente amigos.

WUp: Qual o maior sucesso e o pior momento de sua carreira?
MA: Meu maior sucesso... foi vencer o campeonato em 1991. E vencer tantas corridas quanto venci. Eu me aposentei como o terceiro de todos os tempos [em vitórias], foi legal. A pior experiência foi, obviamente, a F1. Eu aprendi muito, então, pela experiência e por aprender sobre a vida e as coisas, foi bom, mas, quase arruinou a minha carreira.

WUp: O que pesa mais: não ter vencido as 500 Milhas de Indianápolis ou ter fracassado na F1? 
MA: Provavelmente ter o azar que eu tive em Indianápolis, porque todos sabem que eu poderia ter vencido aquela corrida. Eu poderia ter vencido lá seis vezes, mas sempre tive algo que deu errado. Na F1, era apenas uma questão de que as coisas eram manipuladas por outras pessoas e não era sobre corridas ou algo assim. O que me incomoda é Indianápolis, sinto que deveria ter vencido lá várias vezes. 




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