15 de maio de 2017

Excelente GP da Espanha de Fórmula 1, segundo Fávio Gomes!

Fonte: http://flaviogomes.grandepremio.uol.com.br

"Eu ia começar este “Sobre ontem…” com uma carta aberta ao meu amigo Galvão Bueno. Pediria a ele para olhar para os pequeninos. Para não ficar amaldiçoando a transmissão internacional da FOM porque ela não coloca no ar o rádio de quem ele quer ouvir na hora que lhe apetecer, ou de quem ele acha que é importante. Eu queria ouvir o pessoal da Force India, Galvão, depois do quarto e do quinto lugares de Pérez e Ocon. Era importante. A Force India é uma das coisas boas deste ano. Sabia, Galvão, que é a única equipe a pontuar em todas as corridas com os dois carros nesta temporada? Pois é. Há mais coisas importantes na F-1, Galvão, do que o vencedor e os brasileiros — no caso deste ano, “o” brasileiro. 

Imagine, amigo Galvão, se fosse Massa em quarto ontem. E entrasse o rádio da Williams antes do da Mercedes de Hamilton, que você queria ouvir e julgava mais importante que o da Force India. Você diria, Galvão, que “ninguém quer ouvir esse Massa aí”? Você, Galvão, queria na verdade chamar o comercial para voltar com as imagens do pódio. Mas a F-1 não se importa com os comerciais da Globo, Galvão. Está cagando para o “Esporte Espetacular” e para a grade da sua emissora. A F-1 é mais que o vencedor. É mais que o Brasil. A F-1 ontem era a Force India, também. E era o Wehrlein. Esse aí da foto que escolhi para abrir nosso pós-corrida. Galvão, você não citou o Wehrlein na transmissão! Ele chegou a ficar em quinto, salvo engano. Esteve quase a corrida toda em sétimo. Fez uma parada só, espertíssima, durante o safety-car virtual. Segurou a Toro Rosso a prova toda, com um carro que no ano passado era pilotado por um brasileiro, Felipe Nasr, que terminou a corrida de Interlagos em nono e, felizmente, pudemos ouvi-lo pelo rádio. E não me lembro de você ter praguejado contra a FOM por ter colocado o rádio da Sauber, em vez do da Mercedes — já que Hamilton tinha vencido. Foi excelente o rádio do Nasr ano passado em Interlagos. Emocionante, sincero, tocante. Wehrlein terminou em sétimo ontem, na pista. Mas foi punido, e você nem falou dessa punição, nem contou que por conta dela o jovem Pascal cairia para oitavo. Você podia ter contado, rapidamente, que Wehrlein é piloto da base da Mercedes, foi o mais jovem campeão da história do DTM, que ficou fora das primeiras provas do ano porque bateu na Corrida dos Campeões numa disputa com Massa na Flórida no fim do ano, que quase ficou aleijado, que é muito talentoso e por isso o amigo em casa deveria prestar atenção nele, que a Sauber conseguiu já na quinta etapa do campeonato mais do que fizera no ano passado inteiro, que isso pode salvar as finanças do time, e que graças a Wehrlein nove equipes já pontuaram neste ano, e a única exceção é a McLaren que já foi do seu amigo Ayrton Senna — olha aí, teria até um gancho para falar do nosso Ayrton. 

Por isso, Galvão, eu queria ouvir o rádio da Force India e queria ouvir também alguma coisa sobre o Wehrlein, porque esse negócio de só falar de brasileiro por décadas e de esquecer tudo que não seja o cara que vence, o segundo e o terceiro colocados ajudou a formar um público acrítico, desinformado, desinteressado, que não enxerga nada além do que mostram as imagens da TV, e que não se emociona e/ou se importa com nada que fuja desse roteiro pisado, repisado, rançoso e superficial que você e sua emissora julgam que ele, público, se interessa por.

Fale dos pequeninos, Galvão, olhe para o resto, isso ajuda as pessoas a gostarem da coisa. O GP da Espanha, ontem, foi muito mais do que a bela disputa entre Hamilton e Vettel. Foi, também, um domingo de espanto pelo desempenho ruim da Red Bull e pela performance abaixo da crítica da Williams. Foi, também, um domingo de ótimo trabalho dos pilotos da Toro Rosso. Foi, também, mais uma demonstração de renascimento da Renault, com o sexto lugar de Hülkenberg. Foi, também, um domingo em que oito das dez equipes chegaram na zona de pontos.

Não é legal isso, Galvão?

Bom, eu ia escrever uma carta aberta para ele, mas melhor não, as pessoas hoje ficam muito melindradas com qualquer coisa, e eu adoro o Galvão e não quero que ele fique melindrado comigo. Só queria que ele olhasse com mais carinho para tudo, até porque detesto ver as pessoas ofendendo meu amigo, dizendo que ele não entende nada, que não conhece corrida, que não percebe o que está acontecendo na pista. E isso é o que mais fazem nos comentários das redes sociais, com uma virulência inaceitável. Se o Galvão começar a olhar com mais atenção para algumas coisas que acontecem num GP de F-1, vai ajudar quem está assistindo a entender melhor o que se passa diante de seus olhos, e quem sabe até essas pessoas comecem a gostar do assunto. Já pensou se você ignorasse a pequena Toleman lá em 1984, Galvão? Ou a jovem Jordan em 1993? Ou a discreta Sauber em 2002?

Bom, vou ficar quieto para ele não brigar comigo. Tomara que nem leia isso aqui.".

esp17i

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